quinta-feira, 24 de junho de 2010

Era uma vez...

Não saberia dizer o que era a leitura para mim quando criança. Cresci cercada por livros espalhados pela casa e nas estantes do escritório Minha mãe lia para mim antes de dormir, me lembro bem do Sítio do Pica Pau Amarelo, de pedir que ela lesse mais um capítulo, pois estava morta e curiosidade, algumas vezes ela cedia depois de contar quantas páginas havia no outro capítulo. A coleção do Monteiro Lobato me encantava, mas eu não lia sozinha, pois como estava em fase de alfabetização podia me confundir com a grafia antiga. Eu gostava de ver as palavras na grafia antiga e ficava perguntando por que tinha mudando e que decidia essas coisas. A resposta era sempre longa e minha imaginação acabava se perdendo em algum momento.
Sempre gostei que lessem para mim, até hoje gosto de ouvir história, de imaginar a próxima palavra ou acontecimento.
Tínhamos muitos livros infantis, eu tinha os meus e também os herdados da minha irmã mais velha. O incentivo a leitura era constante, todas as férias separávamos alguns livros para leva na viagem, para ler antes de dormir.
Quando adolescente não queria mais saber de ler, talvez fosse esse meu ato de revolta, de ser diferente em uma família de leitores.
Aos pouco os livros voltaram ao criado-mudo e agora começo minha própria pequena biblioteca.

Como escrevo

Sempre tenho uma enorme preguiça de começar a escrever, porque sei que depois que começo terei que ir até o final. Raramente começo um texto, uma resposta da faculdade e paro no meio para retomar mais tarde. Uma vez começado vou até pelo menos algum momento que me dê à sensação de fim, ainda que seja apenas o final de uma parte ou capítulo.
Enquanto escrevo faço muitas pausas, algumas longas para um café, um lanchinho, uma ida ao banheiro. Então voltou, releio, mudo algumas coisas. Uma hora paro de reler, porque começo a ter a sensação de que está tudo errado, que deveria ter colocado outras idéias, que a ordem do texto não era aquela que eu havia inicialmente imaginado, que o sentido se perdeu, que está cheio de erros e assim por diante. Normalmente dou para alguém ler e peço que faça correções.
Quando era pequena levava tudo para minha avó ler. Ela fazia suas correções a lápis, especialmente ortográficas e sempre me elogiava. Hoje costumo pedir ajuda à minha irmã e também ao meu namorado (meu leitor mais fiel).
Em geral tenho uma idéia que penso ser ótima sempre antes de dormir quando não tenho nenhuma caneta por perto, no dia seguinte esqueço tudo e assim unto com a preguiça e vou enrolando para começar Espero os prazos de entrega irem chegando, então me desespero e acabo sentado para escrever. No começo vai devagar, mas uma hora engrena e algumas frases que eu havia pensado parecem reaparecer na cabeça, como um antigo carro a álcool que precisa esquentar para andar.

De dentro pra fora, ou de fora pra dentro?

De onde saem as linhas que formam os contos, os romances, as crônicos, os textos científicos, enfim tudo aquilo que vemos escrito por ai?
Não acredito que haja uma resposta que convença a todos. O ato de escrever será sempre objeto de muitas teorias e também de bastante misticismo.
Será uma inspiração? Seriam os escritores seres agraciados por Deus? Seria fruto de trabalho árduo e horas de concentração e transpiração? São muitas as perguntas e igualmente o número de respostas.
Além disso, criamos a idéia de que o escritor deve sofrer para ser bom, viver cada emoção com purismo, senti-la até não mais agüentar, para assim ser capaz de colocar em palavras utilizando-se de seu dom. Como se o ato de escrever fosse não um trabalho, mas sim uma dor, um parto.
Afinal, existe dom? Existe inspiração?
João Cabral de Melo Neto é bastante categórico em sua resposta quando é questionado sobre o desinteresse dos escritores brasileiros pela produção de textos teóricos:
Eu acho que é leviandade intelectual. O escritor brasileiro ainda acredita muito na inspiração, ele escreve por inspiração, acha que vai chegar num encontro daqueles e falar bem baseado no improviso, na inspiração, Eu não acredito nisso. (...) Para mim, poesia é uma construção, como uma casa. Isso eu aprendi com Le Carbusier. A poesia é uma composição. Quando digo composição, quero dizer uma coisa construída, planejada – de fora para dentro. (...)
Eu só entendo o poético neste sentido. Vou fazer uma poesia de tal extensão, com tais e tais elementos, coisas que vou colocando como se fossem tijolos. É por isso que eu posso gastar anos fazendo um poema; porque existe planejamento.(...)

Já para Raquel de Queiroz, escrever é uma gestação e o texto pronto só existe depois das dores do parto. A escritora acredita que é um bom escritor é sim dotado de um dom.
(...) para escrever, tem que haver o dom da escrita, tal como para cantar é preciso o dom da voz. Todos conhecemos pessoas inteligentes, até brilhantes em sua especialidade – medicina, arquitetura, engenharia, economia e, na verdade, por mais sabedores que sejam no seu ofício, não conseguem exprimir na palavra escrita essa sabedoria. (...)
Talvez a grande questão não seja se existe ou não dom, se existe ou não inspiração, e sim qual o sentido atribuído a essas palavras tão abertas as mais variadas interpretações.

Discutindo o hipertexto

Hoje em dia, vivemos em uma sociedade em que a tecnologia está cada vez mais presente. Com a chegada do hipertexto, como podemos usufruir da melhor maneira possível de suas ferramentas, afim de aumentar o conhecimento/informação sobre o assunto abordado?
(pergunta da Bárbara)

A cada mudança no processo de leitura inúmeras teorias surgem apontando as maravilhas e também os malefícios que virão pela frente. E, de modo geral, sempre as novas trazem tecnologia carregam boas e más conseqüências, muitas vezes nem são aquelas que haviam sido anteriormente apontadas.
O medo do novo e inteiramente justificável, ainda mais quando tratamos de algo como a internet que, seja para bem ou para mal, é uma ferramenta atualmente sem controle. O hipertexto é hoje uma realidade e não cabe mais discutir se deve ou não existir, a discussão é agora sobre seus usos.
Por mais receios que possamos ter, o hipertexto democratizou muitas informações permitiu que através de pesquisas rápidas se encontrassem informações antes bastante restritas.
A meu ver, enquanto ferramenta de pesquisa e também como instrumento para mapeamento do que existe disponível na rede, é algo fantástico que pode facilitar e ampliar o acesso ao conhecimento.

As etapas da escrita - resposta

Após o conhecimento e a reflexão sobre o processo cognitivo da escrita, quais são os benefícios deste estudo na prática da escrita?
(Pergunta da Renata)

Quando elaboramos teorias e esquemas sobre o ato, procurando compreender as etapas e os processos cognitivos envolvidos, tonamos consciente algo que muitas vezes nos parece um impulso de criação ou, quando estamos com dificuldades para desenvolver um texto, um suplício.
Conhecer os mecanismos da escrita pode nos auxiliar nos nossos próprios processos de escrita. Entender que partimos de um problema retórico e ser capaz de identificá-lo faz com que o texto não perca o foco e a acabe por não cumprir seu objetivo.
Saber acessar a memória de longo prazo é também um recurso enriquecedor, que possibilita comparações e relações com outros textos ou mesmo com situações vivenciadas pelo autor.
A consciência de que existente etapas e que em cada uma delas se utiliza certos recursos cognitivos ajuda a desmitificar o ato de escreve.

Reflexão

Ao conceber a atividade da leitura como sendo um diálogo que se estabelece entre o leitor e o autor através do texto, nos deparamos com uma pluralidade da leituras. Em sua opinião, quais os pontos positivos e negativos desse fato para o ensino da leitura? Ao conceber a atividade da leitura como sendo um diálogo que se estabelece entre o leitor e o autor através do texto, nos deparamos com uma pluralidade de leituras. Em sua opinião, quais os pontos positivos e negativos desse fato para o ensino da leitura?
(Pergunta da Flávia)


A compreensão do processo de leitura e dos sentidos presentes no texto é objeto de estudos há certo tempo e seu enfoque já variou entre autor, texto e leitor. Ao entendermos esse processo como um diálogo, em que consideramos a presença das três variantes, nos deparamos com uma possibilidade vasta de interpretações de um mesmo texto. O fim de um pensamento que determina a existência de uma única leitura “certa” do texto.
Conceber múltiplas interpretações ao texto é um ganho no ensino da leitura. O texto em si determina parte da interpretação, o conhecimento do autor e seu contexto também auxilia na compreensão dos sentidos e a vivencia do leitor, no caso o alunos, é igualmente fundamental nesse processo.
As várias interpretações engrandecem as discussões sobre um determinado texto. Qual era o objetivo do autor com o texto? Em sua opinião, o que o texto diz, desconsiderando seu conhecimento prévio sobre o autor? Sem saber nada do contexto em que esse texto foi escrito, qual sua interpretação?
Essas são exemplos de questões que podem ser feito aos alunos, enriquecendo seu conhecimento do texto e considerando suas experiências no sentido do texto.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A resposta

Hoje vivenciamos uma cultura digital que impõe novos ritmos de aprendizagem e conhecimento. Somos bombardeados com informações a todo momento e num ritmo frenético. Remetendo-se ao texto estudado, fica uma pergunta para reflexão: a passagem da leitura oral para a leitura silenciosa, nos trouxe diversas mudanças positivas. No entanto, a oratória que tanto era valorizada,quase foi extinta, ficando hoje restrita apenas a discursos políticos,saraus, ou cursos específico. Será que talvez não precisamos resgatar um pouco dessa tradição, em que o conhecimento era compartilhado com todos?
(Perganta da Elis)

É sempre uma sensação um pouco estranha quando descobrimos que algo que nos é tão natural, como a leitura em voz baixa, é na verdade conseqüência de um longo processo histórico e de mudanças culturais e sociais.
É comum, e por vezes vital, naturalizarmos nossos habitados acreditando que sempre foi e sempre será assim. Afinal se passarmos a vida questionando tudo acabaríamos apenas com incertezas, pois nossa conclusão seria que tudo é cultural, decorrente de uma sucessão de fatos e transformações. Ao olharmos para trás, para séculos de história documentada, conseguimos perceber tais mudanças, nesse caso d leitura em voz alta para a leitura silenciosa, mas será que aqueles que viveram na época em que teve início tal processo de transformação eram capazes de perceber que estavam diante de algo tão significativo?
O que o texto de Manguel nos diz é que não. Augustinho ao se depara com Ambrósio pensou ver uma exceção, o que para época estava plenamente correto, mas não lhe passou pela cabeça que estaria diante do futuro da leitura.
Embora seja assustador e cheio de incertezas o olhar para o passado também nos mostrar que é possível mudar, que os padrões sociais podem e serão alterados, por isso cabe a nós sermos agentes ativos de nossa história através da consciência dela e de reflexões como esta proposta pela Elis.
O texto de Manguel exalta os benefícios e as transformações que a leitura silenciosa originou, porém pouco diz sobre as conseqüências negativas que o fim da leitura em voz alta possa ter.
A leitura em voz alta é uma formar de compartilhar conhecimento e também e de escutar a visão do outro sobre um texto, ampliando as maneiras de compreender e interpretar os textos. Além disso, quando se lê para uma criança, por exemplo, se estabelece um laço afetivo, um companheirismo interessante de ser resgatado num mundo atual que está bastante egocêntrico.
Acredito que as duas formas de leitura não deveriam ser excludentes e sim complementares, possibilitando aos leitores tanto o compartilhamento e o exercício da leitura coletiva, como também a autonomia e contato direto com o texto sem intermediários.